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BAUEN, dia 26

No início dos anos noventa começaram a ocorrer outras mudanças no hotel: a empresa “equipou o quarto andar do hotel com escritórios de aluguel, para atrair executivos chilenos que vinham fazer negócios. E transformou os auditórios do hotel em um local para reuniões políticas de todos os tipos”1. O Bauen dos Iurcovich foi, segundo o pesquisador Alberto Bonnet2, um daqueles lugares onde o menemismo materializou sua ideologia frívola e consumista: As cenas noturnas de encontros nas badaladas pistas de boliche e restaurantes, Nova York, Trumps, El Cielo, Hippopotamus, Fechoría, ou nas suítes cinco estrelas mais privadas dos hotéis Alvear ou Bauen”, estão entre os elementos que ele aponta como parte do clima cultural menemista durante sua hegemonia na década de 1990.

Arminda deixou o hotel em 1983, entretanto voltaria a trabalhar ali dez anos depois, ainda sob a gestão dos Iurcovich. Como esperado, aqueles dez anos afastada do estabelecimento a fizeram perder a antiguidade do vínculo empregatício. No entanto, os colegas que permaneceram no Bauen sofreriam o mesmo destino, a empresa logo começaria a realizar as manobras de sonegação previdenciária, tão recorrentes nas defraudações. María Eva Lossada, trabalhadora do hotel e à data desta publicação, presidente da cooperativa BAUEN, conta que desde meados da década de 1990, “a empresa mudou sua razão social para sonegar impostos e evitar o pagamento de anuênios, de encargos previdenciários e férias de funcionários. Sua chegada ao hotel em 1994 foi marcada por um acontecimento que a marcou no primeiro dia de trabalho:”havia um grupo de pessoas que foram demitidas, cerca de vinte, e estavam reunidas na porta do hotel”. Como retaliação, fazer os substitutos entrarem às vistas dos dispensados não era pouca coisa.

Porém, com Maria Eva o resultado não saiu como esperado pelos patrões.

Esta pressão sobre os trabalhadores se torna cada vez mais notória. Como um todo no mercado de trabalho da época, em toda a indústria hoteleira e gastronômica as condições pendiam à deterioração e à insegurança empregatícia. Foi necessário aceitar o que estava por vir, continua María Eva, “porque, como ele dizia, ‘há 50 esperando lá fora para substituí-los’. Eles também começaram a terceirizar as atividades.

O número de trabalhadores foi reduzido para “um punhado de 70 pessoas que pertenciamos ao hotel”, e o restante dos funcionários começou a ser designado para áreas terceirizadas, tais como “a lavanderia, as áreas públicas, o bar, a maioria deles pertencia a esses departamentos”. Iurcovich aplicou à risca o manual do precarizador, expulsando trabalhadores, assumindo novos trabalhadores em piores condições, mudando o nome da empresa para evitar a acumulação de anuênios, terceirizando setores cujos funcionários não estavam mais nas dependências do hotel, mas sim nessas empresas contratantes que, na realidade, eram filiais de seu próprio grupo empresarial. ramos de seu próprio grupo empresarial (ver quadro).


  1. “Empresários chilenos compram o hotel Bauen”, no jornal Clarín, 13 de março de 1997. Obtido em http://edant.clarin.com/diario/1997/03/13/o-02901d.htm
  2. Alberto Bonnet, A hegemonia menemista: neoconservadorismo na Argentina, 1989-2001. Buenos Aires: Prometheus Books, 1997.
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