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BAUEN, dia 1

Introdução

Esta é uma história que ainda não tem fim. O hotel BAUEN é possivelmente uma das experiências de autogestão de trabalho mais conhecida no mundo, um emblema da capacidade dos trabalhadores e trabalhadoras de não apenas gerir uma empresa, como assumir o destino com as próprias mãos. Não tem final porque ainda está aberto. No momento da edição deste livro, uma nova ordem de despejo contra a cooperativa, emitida pela Juíza Paula Hualde pendia sobre o hotel. Antes, no dia 26 de dezembro de 2016, o Presidente Mauricio Macri havia vetado a lei de expropriação que, depois de quatorze anos de luta, os trabalhadores haviam conseguido que fora aprovada por ambas as câmaras do Congresso, em uma das mais angustiantes sessões separadas por um ano de espera. Esse veto presidencial desencadeou nesta situação em que esta edição veio à luz.

O resultado imediato dessa situação altamente complexa, senão a mais difícil que os integrantes da cooperativa tem passado em uma história que não poupou momentos difíceis, não vai modificar substancialmente o que aqui se conta, que é a longa luta de um conjunto de trabalhadores e trabalhadoras que escreveram várias páginas de uma rica história do movimento operário argentino. E que se converteram em uma referência de autogestão reivindicada em nosso país, na França, Grécia e México. A história do BAUEN tem pontos de contato com os de outras empresas recuperadas, mas também com várias diferenças que convém destacar. Como a maioria dos protagonistas das 370 experiências de recuperação de empresas pelos trabalhadores na Argentina, viveram momentos angustiantes de luta e resistência, mas também de felicidade, construção coletiva, criatividade, solidariedade. Mas o que marca a diferença é a obsessão do poder para acabar com esta cooperativa, especialmente do poder econômico e judiciário, que se unem com o político quase sem mediações com o governo atual da Alianza Cambiemos. Por isso, o foco deste livro não é tanto a experiência de gestão dentro da cooperativa, senão a insistente luta que segue mantendo seus integrantes desde o primeiro momento contra esse imenso poder.

A história do BAUEN começa no período mais trágico da nossa história recente, a ditadura civil-militar que não teve piedade com nosso povo entre os anos de 1976 e 1983. Uma nebulosa trama de interesses e manobras configuram o perfil dos negócios da pátria contratante com os grupos econômicos que cresceram e lucraram a partir de suas proximidades com a ditadura. O grupo Iurcovich, fundador da empresa Bauen SACIC, é um deles, o primo pobre de outros com maiores dimensões como o grupo Macri. O Bauen foi, até o dia do seu fechamento em dezembro de 2001, o hotel do poder. E agora, desde a sua recuperação por esta cooperativa, é o hotel dos trabalhadores, o hotel do povo. Esta é a sua história.

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