Naturalmente, os objetivos perseguidos pela nova administração e os métodos organizacionais e decisórios estavam muito distantes dos da administração anterior. Isto não passou despercebido por um veículo midiático que opinava e se insurgia sistematicamente contra os trabalhadores do hotel (e contra a classe trabalhadora em geral):
Através de contatos com o delegado da linha E, Roberto Pianelli, os piqueteiros tiveram a ideia de realizar assembleias e coletivas de imprensa no hotel Bauen. Desde que uma cooperativa de trabalhadores assumiu o comando, o Bauen se tornou o local para reuniões políticas. Poucas marchas são decididas fora desse lugar. Pessoas desempregadas, líderes sindicais de partidos de esquerda e organizações de direitos humanos encontram ali um ponto de encontro natural.1
A descrição é de uma reportagem do jornal La Nación que deu conta dos processos de luta e organização que, em fevereiro de 2005, reuniu líderes de diferentes organizações políticas e sociais em torno da luta travada pelos “metrô-delegados” (“um sindicato de base mais inclinado à esquerda do que ao peronismo”, de acordo com o mesmo cronista), um corpo de delegados de trabalhadores metroviários que se organizaram fora da burocrática União Tranviária Automotora (UTA) e que deu origem, através de uma luta prolongada, à atual Asociación Gremial de Trabajadores del Subte y el Premetro (Sindicato dos Trabalhadores do Metrô e do Pré-Metrô). No entanto, a crônica do jornal La Nación deixa escapar uma falsidade quando diz que “desde que uma cooperativa de trabalhadores está no comando, o Bauen tornou-se um lugar de reuniões políticas”, ignorando as inúmeras reuniões e eventos que os principais partidos políticos ali realizavam durante os tempos da gestão empresarial. Em outras palavras, quando os patrões estavam no comando, o BAUEN já era um “lugar de reuniões políticas”. O que mudou é a composição e a orientação de classe daqueles que ali realizam suas reuniões e o tipo de objetivos almejados pelas respectivas alianças.
O jornal La Nación, contudo, não estava totalmente errado em sua diferenciação. Especificamente sobre os metrô-delegados, o BAUEN era de fato um lugar-chave para facilitar sua organização. “Beto” Pianelli, Néstor Segovia e outros militantes que formaram aquela primeira tentativa dos Metroviários de construir sua organização com autonomia em relação à burocracia da UTA afirmaram muitas vezes a relevância do BAUEN abrigando as reuniões e assembleias que organizaram o novo sindicato. A máfia da UTA até agrediu os delegados dentro do hotel, causando lesões a seus trabalhadores e danos materiais. Mas foi tudo em vão, os metrô-delegados não desistiram de seus objetivos, não se deixaram intimidar por esses eventos e conseguiram se consolidar.
Desde então, os laços entre eles e os trabalhadores do BAUEN se tornaram tão fortes que até ameaçaram atacar o Metrô diante das ameaças de despejo sofridas pela cooperativa. Isto é, propriamente falando, solidariedade de classe em ação.
- Daniel Gallo, “Los piqueteros acompañan la huelga”, no jornal La Nación, 10 de fevereiro de 2015. Obtido em http://www.lanacion.com.ar/678461-los-piqueteros-acompanan-la-huelga↩