O que realmente aconteceu foi bem diferente: Bauen SACIC aceitou um plano de pagamento em quinze parcelas, das quais quitou apenas a primeira. Em outras palavras, Giordano fez uma reclamação em razão de um contrato quebrado por inadimplemento e, além disso, queria que o Estado custeasse a ação. Como se pode perceber no comportamento dos Iurcovich, se financiarem de alguma forma com bens públicos é uma prática recorrente (contratando créditos que não são restituídos, reclamando o Estado em ações deslavadas, não pagando suas obrigações fiscais). Em uma palavra, aplicando o manual do golpe ao erário público utilizado por grande parte do empresariado nacional (e e internacional operante no país). O que Damonte destacou em seu escrito, “que essa desordem causada pela parte executada tem como único objetivo o de se desvencilhar de suas obrigações fiscais”.
Em 20 de setembro de 2001, o juízo determinou o bloqueio de bens da Bauen SACIC, e já em abril de 2002, Damonte, na qualidade de representante legal do GCBA, solicitou seu leilão. Mas a expertise em dilatar os prazos dos advogados do escritório foi, sem dúvida, grande e eles conseguiram seguir em frente sem pagar nada até 12 de outubro de 2011, quando se decretou o arresto dos ativos da empresa, desta vez do Bauen Suite (o hotel construído na Avenida Corrientes, “na esquina” de onde está localizado o primeiro), pelo total, com juros e multas, de $ 4.736.057,62 (o valor original era de $ 794.640,54 em 31/12/1998).
Contudo, uma vez mais, eles conseguiram escapar. Em 6 de janeiro de 2012, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial informou ao tribunal interventor que a marca Bauen Suite estava em nome de Hugo Eduardo Iurcovich, por transferência efetuada em 10 de setembro de 2009, razão pela qual não poderia ser penhorada por dívidas da antiga empresa Bauen SACIC. Aparentemente, o filho herdou a capacidade viscosa do pai de nunca pagar suas dívidas.
O pano de fundo foi dado pelo próprio GCBA, que finalmente perdoou generosamente as dívidas – afinal, extremamente difíceis de se cobrar – e libertou os Iurcovich desse pesado fardo. Não surpreende, portanto, que testemunhas oculares citadas por Santiago O’Donnell em seu artigo tenham dito ter ouvido Marcelo Iurcovich se gabar de ter construído um hotel cinco estrelas sem gastar um único peso1. Como resultado de tudo o que descrevemos, fica claro que do início ao fim o grupo Iurcovich, mais do que um grupo de investimento, é um fundo carniceiro às custas do Estado, e aproveitando o fato de o hotel ter deixado lucros significativos, a Bauen SACIC desviou esses recursos para a construção do Bauen Suite na Avenida Corrientes, montou duas empresas fantasmas offshore no Uruguai e empreendimentos hoteleiros no Brasil e em Porto Iguaçu, entre outros negócios. E, com a paciência de quem sabe que o sistema e o tempo estão do seu lado, espera que as coisas voltem a ser como sempre foram e que o Hotel Bauen, onde tudo começou, seja devolvido às suas mãos.