Chilavert era, então, um lugar ideal para os ex-trabalhadores da Bauen começarem a se reunir com vistas a uma eventual recuperação. Isso parecia absolutamente irreal no início. Arminda conta que “um dia os meus colegas me ligaram, dizendo que realizariam algumas assembleias para tomar o hotel, pois tinham contatado um grupo do Movimento (Nacional) das Empresas Recuperadas. Eu lhes questionei se isso seria útil a eles, porque eu já era uma pessoa madura. E eles me disseram que sim, para não pensar em nada, que eles precisavam do meu apoio e que eles realmente queriam que todos nós nos reuníssemos, num grupo de pessoas, e que por favor passássemos de boca em boca que essa assembleia seria realizada para que todos os interessados viessem àquela primeira assembleia para ver como isso poderia ser feito, porque nós mesmos não sabíamos nada sobre leis. Tínhamos um medo bárbaro”.
Nesse primeiro encontro, os funcionários do hotel reuniram-se com militantes do MNER e trabalhadores de várias empresas já recuperadas. Eduardo “Vasco” Murúa, líder do IMPA e presidente do MNER, assumiu a liderança. Eva conta que também estiveram José Abelli, vice-presidente daquela entidade, Fabio Resino, que mais tarde teria um papel de destaque na história do BAUEN, e os anfitriões Cándido González e Plácido Peñarrieta, dentre outros que à época formavam a liderança e a militância mais comprometida do movimento. Gladys relata que “encontramos oito, nove pessoas em uma esquina, nas avenidas La Plata e Caseros. Foi quando nos encontramos pela primeira vez, quando estávamos indo realizar o encontro em Chilavert”. Quando Murúa os perguntou se estavam em condições de tomar o BAUEN, Gladys lhe disse que não, que eles seriam esmagados, que era impossível. “El Vasco” e Cándido González, um dos trabalhadores de Chilavert, lhes disse que de forma alguma era impossível, que era viável, pois já tinham conseguido em suas respetivas empresas. Gladys disse:
E ele nos explicou o que era uma empresa recuperada, nos explicou como começou o IMPA, como começou a Chilavert. A partir daí eles deram força àqueles de nós, presentes. E nós dissemos aceitamos. Acrescentei que se tivéssemos que tomar o BAUEN tínhamos que tomá-lo hoje porque os donos iriam descobrir e colocariam Guardas dentro, não poderíamos entrar. Então ele me disse que naquele momento não porque não tínhamos contingente para entrarmos.
Esse foi o momento decisivo quando, com a ajuda do MNER, os trabalhadores do hotel começaram a ver a recuperação do edifício Callao 360 como um objetivo viável para o retorno ao trabalho. Várias reuniões foram realizadas e o grupo começou a crescer. Gladys conta que recorreu a “uma pequena mentira” e começou a convocar os colegas sob o pretexto de que o administrador iria pagar outra parte do que lhes era devido. A “mentirinha” foi “por medos, temor, ou talvez por alguma bobagem, mas para mim naquela época era muito importante, uma aventura que eu nunca tinha imaginado ou sonhado. E a partir daí estamos na luta.”
A chamada foi para 21 de março de 2003 na esquina de Callao e Corrientes.