A questão de quando e como esta venda foi realizada é fundamental, pois é o que protege as reivindicações da família Iurcovich e permite que elas apareçam repetidas vezes reivindicando o despejo do BAUEN. O título de propriedade do edifício na Callao 360, quase como por encanto, caiu de volta em suas mãos. Lembremos que quando ocorreu a falência e nos primeiros anos de recuperação do hotel pelos trabalhadores, eles aparentemente não tiveram nada a ver nem com a falência nem com a empresa compradora.
E quem formou a Mercoteles, que de repente apareceu empunhando o bilhete de compra em sua posse? Supostamente, era uma nova empresa, não relacionada a nenhuma das anteriores. Iurcovich, de acordo com a “investigação” acima, recuperou a propriedade do edifício como resultado da falência de Solari, que não havia terminado de pagar pela venda. Ele a vendeu, por sua vez, a uma terceira parte, a Mercoteles. Anos mais tarde, em 2010, a Mercoteles fez uma mudança de autoridades e estabeleceu um novo endereço, sem qualquer venda ou mudanças substanciais na composição acionária. Acontece que, através do Diário Oficial nº 31.973, datado de 26 de agosto de 2010, soubemos que Hugo Eduardo Iurcovich, filho de Marcelo Iurcovich, DNI 11.478.326, argentino, divorciado, residente na Av. Del Libertador 8008, 24º andar, apartamento 2, Capital Federal, era o diretor chefe da Mercoteles desde 12 de janeiro de 2006. E pelo Diário Oficial do dia anterior, a empresa estabeleceu seu domicílio, pela Ata do Conselho de Administração de 01/06/2010, na Av. del Libertador 8008, 24º andar, na Cidade Autônoma de Buenos Aires. Como pode ser visto, o endereço pessoal de Hugo Iurcovich e o endereço da Mercoteles são os mesmos. Nem isso foi preciso ocultar e nada a esconder.
De fato, a venda do Bauen à Mercoteles ocorreu poucos dias após a formação dessa empresa. Enquanto os funcionários da falida Solari SA continuavam a trabalhar na torre da Callao 360 e viviam com angústia o declínio evidente de sua fonte de renda, temendo o futuro negro do desemprego que estava chegando, como de fato estava para acontecer em breve, nos bastidores a transferência de propriedade foi feita de uma empresa que havia vendido um hotel quatro anos antes para uma empresa que havia acabado de ser formada e que, como o artigo dizia, não se sabia qual era o seu ativo real.
Como em tudo na história da empresa Bauen e do grupo Iurcovich, a confusão sempre foi a norma. Existem discrepâncias e diferentes versões das datas, mas elas não alteram a substância da questão. Vamos tomar aqui as datas dadas pela própria juíza da falência, Paula Hualde, em primeira instância ordenando o despejo da cooperativa a fim de “devolver” o imóvel à Mercoteles SA. Esta cronologia não coincide exatamente com as informações fornecidas por duas outras fontes, a investigação do jornalista Guillermo Berasategui1 e a denúncia penal feita pelo então Defensor Geral Adjunto da Cidade de Buenos Aires, Roberto Gallardo2. Entretanto, fica claro a partir das datas fornecidas pela juíza que a venda foi feita de Iurcovich para Iurcovich em um momento em que eles não tinham a propriedade do imóvel.